terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Soneto Malungo(nº 159. Pra Danielle Ronald de Carvalho)

Era uma vez mundéu Grande, 
nascido às primas horas do Tempo,
pela boca dos Três. Houve tarde e manhã,
céu inteiro pra nuvens

andarem de bicicleta, e brincarem  -
se muito gordas de chuva  -
de orquestrarão de trombones. O velho Ferges matuta,
apascentando um rebanho de tubas.

Primeiros jardins banzavam dálias gigantes
sobre teu corpo adormecido.
Espelhos de larguíssimas águas formaram rostos,
todos com teus olhos negros de-Noite______

ó cintilação dele Hóspede
que brota pra julgar vivos e mortos!

Perégrinum(Versão soneto, nº 158. Para a amiga Gabriela Carvalhal)

Sob as portadas Imensas da grande catedral
me detenho, os sete Rostos armados
da mais sinceríssima Penitência. Eternidade me chama:
qualquer parede ali bafeja murtas de Séculos.

A praça da cidade é a mesma
de antes do tempo das Cruzadas, quando leões e cordeiros
desceram cataprúnzios a europa, todos querentes
dum embate com o dragão da maldade.

Mas hoje o tempo anda nublado e Vênteo,
os aldeões farejam em Mim cavernanças e
mais açoites Maduros, olhos de outono Pleno
em Várzeas que vida-Mara* plantou______

altares de xique-xiques, zabelês-Chorares
planaltos descarrilhados de Infâncias...
(*Mara: palavra hebraica, significa "amargura")

domingo, 10 de janeiro de 2016

Soneto Reminiscente(nº 157. À memória de Manuel Bandeira, com uma pitada de Mário de Andrade. Para Fatine Oliveira, e pra Gabriela)

"Je vois des anges!" - Exclama o coronel,
transportado, rolando escadaria abaixo mesmo
no meio do concerto de Schumann.
Um telefone atravessando a noitêra

engole as flores de Januário,
os bem-te-vis da Lindaura,
o concretismo dos Campos: deixando chocho o maxixe
do ilustre cabo Machado,

indo por Fim das nos merdéus da Lagoa:
quase atravanca o mergulho
do carumbé João Gostoso(depois que ele veio
lá do bar vinte de novembro)_______

foi bem assim Cataplum!,
bateu no fundo e Cabou.

Sobre mares, ventanças...(Versão soneto, nº 156. Pro Luis Turiba)

O mar natural da vida
é fogo: qualquer coisa meeenos
o lago do cisne branco
em noite de Luarada,

ele pulula de mussuês e más pandorgas
Ruins, feito pipoca ululante que mãe fazia
nos sabadários à tarde, tempo em que a gente achava
mundéu 'cabando no quintal de casa.

O mar da vida é que nem
desembestê de potro chucro no pasto
e outros miguilins do Capeta que vida Madrasta
às vezes faz a gente engolir______

onde trombones no céu são mequetrefes dragões
senhoras e senhores pondo os olhos grandes em Nós.



Erês de Exílio(Soneto, nº 155. Dedicado a: Emanuela Helena, Augusto Guimaraens Cavalcanti. E para Gabriela)

Entonces erês de Exílio, leito de mar
pluriencharcado em Poeira: são meus torés,
abacateiro Estrompado nos carnegões
dela Vida  - mara* mais Tantra...

Porto de Sagres que fui, hoje tropeço
ingés de Quase setembros, coretos Murchos
e mais Inás  -  distantes de mim, sem réstias
de sol nas laterais janelas...

EU: sem olhos num léu de gáveas Extintas,
outonescências de tempo-Foi e tantos,
tantos pássaros que vi morrer nos dentes
maus dele Exílio, mar Pretérito______

a torre de marfim fez-se Esqueleto,
o oceano apodreceu no próprio Leito.

(*Mara: palavra hebraica, significa "amargura")

sábado, 9 de janeiro de 2016

Nascimento da Poesia(Versão soneto, nº 154. Para Fabiana Conceição. E pro cabrunco Medeiros Claudio)

Mundo mal despertando
do sono da Nulitude.
Pianos recém-nascidos
andavam atrás de suas mães

nas primeiras planícies. O homem
era um jardim de estátuas de pedra.
A Virgem desceu do céu
trazendo as primeiras estrelas,

flor dos Tempos se Abriu.
Do grande tacho dos deuses vieram
vinte e seis brasas na mão dum tal Prometeu,
que pôs Incêndio nas bocarras graníticas_____

houve tarde e manhã nos olhos do Homem
abertos para o exercício do Mundo.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Monstrurograma Samarco(Soneto, nº 153. Para a amiga Ana Lívia)

Manhã. Sol medroso aparece.
Uns capetões samarquícios descem ladeira_____
foi bruzundêra, foi Coisa, foi boi da cara
mais Preta a mancharar a terra d'Alphonsus.

Num tem tresande em choréus
nem bosterices de vela nas cabeceiras,
sol medroso aparece e nos ombros de Mariana
as procissões são desnovelos Inúteis:

que os homens-Cornos  - políticos Anti-malungos -
dinamitaram árvores de meus cantares,
fungurulhando contumazes monstrices
pra ver corar um frade de pedra______

samarcomonstrurograma que a gente engole
e nunca mais se acaba de Morrer.

(Imagem: Salvador Dalí  -  "O ovo da Cascavel")