segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Petrékio (Soneto, nº 62. À memória de Antonio Petrek, pintor paranaense)

Cidade dos homens: vi as horas 
andarem ruas inteiras
querendo aboio dos pássaros,
atrás de espelhos  -  Mistério.

Nuvens cambonam raios,

falam trovões sobre os ouvidos
já fartos de politices,
desabam tardes sobre edifícios

e sobre os carros  despidos

de seus cavalos. Vi centauros e peixes
apagando o sol, deixando a sala 
 (em silêncio), a própria música

dormir no fundo dos Mares,

na cidade dos homens.

(Imagem: pintura de floresta, à noite)

Soneto Descavernoso (Versão soneto inglês,nº 61)

Quando nasci, meu mundo cabia no
Méier. Alguns mandaram presentes, o
anjo torto Inclusive. O tempo
era Carranca em Brasília. Entonces

foi nesse imbró que me Vim. Depois cresci,

caxanguei. Toquei piano, batina,
mais violão e punheta. Não me casei,
não morri. Não fiz nem filho nem grana,

sei javanês-Urutu. No carnaval  -

Portelense  - no futebol Tricolor.
Também  já fui carbonário, pra nunca
mais ver tenórios  -  sejam tucanos ou

sapos. Trabalho o Som das palavras,

e espero  Adormecer  (bem) Sorrindo.

(Imagem: O beijo, de Marc Chagall)

Cabinda (Soneto Inglês, nº 60. Inspirado em Mário de Andrade)

Enfim a gente né mais assim
amigo um do outro Não, como seu Mário
diria. Você  repleto dessas várzeas Gordas
onde nem pulsa um renque de Escada

nos cangerês mais Cabindas agora deu

pra não-contança de história ver mãe d'água
nos ribeirões que foram nossa amizade
(você maré de lúnios cós-em–Trevura),

meu cambonês viu desande do quanto

Mor lhe avisei que o boicabraque  era
ferrugem Rente, você de empós não viu
mandinga que lhe Chamasse, agora é Fim

como seu Mário diria: você candongo

de mar, você candongo de rio...

(Imagem: Eco Morfológico, de Salvador Dalí)

Roncó (Soneto Inglês,nº 59)

Praça são salvador. As namoradas
que nunca tive fazem biscoitos de
chumbo pra mode que eu degustrôncio
e nada dele Amarildo. A noite

é ver caporas capitães do mato

nas janelências outrora guapas de
Infância, sendo Outra repartição
que funcionava assim movida

pelo sopro do Hóspede: onde Emaús

nas Cinco Salas de todos. Mas hoje
um burburéu catifundo trombona
mãos de petróleo e trinta peças de

prata  jerê-Candonga por tudo em

Roda. Ninguém mais vendo Amarildo.

(Imagem: O grande masturbador, de Salvador Dalí)

Ábaco (Versão soneto inglês, nº 58. à memória de Mário de Sá-Carneiro)

Às vagas de um não conter-Me  -
imensas, fartas, tão... Diluviais  -
Avulta agora um lembrar de quanto pode
em seus arnês-Deserto a lua Negra,

e seus dragões  subsequentes...

erguer-se  a brisa sem tugirem folhas...
pairar de abelhas  onde não há  flores...
e tudo em roda a primavera  Jacinta___

como se o Ferro das  nuvens: assim

vivente desque  Mundo esse mundo  -
meus passos seguem xeréns desconformes,
orixás descalçados de benguês, Monções___

pra trás  -  cores sóis, aguaçais, a Vida 

agora  -  sombras, noitidão  Infinda.

(Imagem: Pintura de Ismael Nery)

Poslúdio (Soneto Inglês,nº 57. Pra minha irmã Laura Pires, em seu aniversário)

Mundo, por tuas praças retintas passam mercês
vestidas em quarta-feira, seguindo um Luto
após a morte das flores. Desandam pontes
sobre céus já saturados pelos edifícios.

Segue apagada a lamparina do Encanto

nos anjos mortos desde o grande Crepúsculo
já tênue nos baroléus da Memória, onde
repousa Emaús em velha estrada Emboaba.

Coelhos dançam num sânscrito o calabouço

de cinco taças, Caronte espreita detrás
de espelhos presos nos olhos, túneis mais Nunca
dando canções da Manhã, sem mares

intermináveis um Dia. Águias recolhem os homens

das horas Findas, a Virgem apaga as últimas árvores.

(Imagem: Composição surrealista, de Ismael Nery)

Soneto à mó de Cabum (Versão soneto inglês, nº 56)

Eu existo pra ver o Fim dessa baiúca que 
chamam de Mundo, quando as estrelas e a Virgem
chutarem os homens de seus pretensos altares,
de suas panóplias Descaralhadas:

preciso ver Sarravulho nos furâmburos

desses mulambos que se acham Coisa,
ver  Madalena Maria, que teve o Nome
jogado em fosso niceno,

as obras do Aleijadinho julgando todos

os homens, corais Imensos no céu
regidos por Jaime Ovalle, ver  riobaldos  jarins,
grandes pequenos indo pra UM de dois mundos____


de um lado as bodas do Hóspede, do outro
os Quizabruns dos infernos. Visto de ida, e CABUM !

(Imagem: Cristo de São João da Cruz, de Salvador Dalí)